terça-feira, 11 de novembro de 2008

NOVO ENDEREÇO!!!!!!!!

Olá!

De hoje em diante estarei com um novo endereço de blog, a única diferença é que mudei para wordpress...


NOVO ENDEREÇO DO BLOG:

http://feijaocomchocolatenocafedamanha.wordpress.com/

entre, comente, adicione aos seus favoritos!!!


beijos e obrigada por acessar!!

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Amputação de dedo?

Eu resolvi fazer um estudo peculiar. Escolhi duas vítimas, uma delas eu falo até hoje, outra, eu não falava faz tempo, mas já fui muito amiga. O caso é que eu inventei que ia amputar um dedo.

Mas como assim AMPUTAR UM DEDO? Exatamente, amputar um dedo! A idéia veio extremamente ao acaso, pois eu tinha posto no nick do meu msn "amputar o dedo", fruto de uma brincadeira que eu fiz com a minha mãe depois de machucar o dedo, que eu ficava falando que ia ter que amputar e ela ficava rindo. Só umas 4 pessoas do meu msn inteiro vieram perguntar se eu ia amputar o dedo, e pra duas delas eu falei que ia.

Eu as escolhi por um critério: local. Uma é do meu antigo colégio, que eu não falava faz tempo, mas já fui muito amiga. Outra era da faculdade, e eu falo até hoje em intervalos regulares. Eu só queria ver qual seria a repercussão gerada de uma coisa como essa.

O resultado disso foi que em um dia 3 pessoas me ligaram desesperadas pra saber se eu ia amputar o dedo, todas da faculdade. Falaram que o Fernando, o menino da faculdade feito de vítima, estava preocupadíssimo comigo, queria saber mais, perguntando quando seria operação e tudo, muito triste por tudo o que tinha acontecido comigo. O menino do colégio não só não pareceu se importar muito como tentou me vender convites de uma festa logo após eu ter falado da suposta amputação.

A conclusão disso tudo eu não entendi direito ainda. Será que velhos amigos deixam de se importar com o tempo? Ou será que essa amizade nunca chegou realmente a ser uma amizade? Será que só as pessoas que convivem com você se importam com você, ou será que aquelas que você conviveu há muito tempo, no fundo ainda sentem o mesmo? Afinal, como é que isso acontece?

Olha que eu so expert nesse assunto de terminar amizades (vide meus 16 anos), mas acho que só sendo uma das outras pessoas pra responder essa pergunta, porque se eu fosse responder, eu diria que no fundo ainda sinto o mesmo, ou quase isso.


PS.: Fe, sinceramente, eu não sabia que você ia se preocupar assim tanto, por isso te peço desculpas!!!

domingo, 21 de setembro de 2008

Morte.


A minha vida inteira eu sempre falei pra todo mundo que não tinha medo de morrer, sempre que o assunto vinha à tona, eu sempre era a corajosa da turma. “Morrer? Ué, acontece com todo mundo, não é mesmo?”

Pura balela.

Eu acho que eu nunca tinha parado realmente pra pensar sobre isso quando eu falava que não tinha medo. É fato que acontece com todo mundo e todo mundo sabe disso, mas não sei se muita gente pára pra pensar: eu vou morrer. Um dia eu vou deixar de enxergar, de sentir, de falar, de me mexer, e todo o resto, porque eu vou morrer.

Eu não sei porque esse ano eu tenho pensado tanto nisso, nunca foi desse jeito. A minha vida inteira eu vivi como se ela fosse eterna, como se a realidade da morte fosse extremamente distante e eu não tivesse que me preocupar com isso agora.

Sempre vivi esperando..esperando por tudo o que eu sempre quis fazer e ainda não fiz. Sempre achei que um dia faria tudo o que já tive vontade, mas a verdade é que eu não vou fazer. Eu não vou dançar bem, eu não vou ser ginasta e eu não vou ser a pessoa mais inteligente do mundo. Eu não vou cantarolar em um lugar qualquer e um olheiro vai me ouvir sem querer e gostar da minha voz (que por sinal é feia) e me chamar pra ser cantora.

Eu não vou fazer nada disso, eu vou é morrer.

Esse não é mais um texto de incentivo a viver a vida intensamente, como todos esses que eu vejo por aí, esse é um texto pé no chão, o primeiro da minha vida.

Não é questão de fazer tudo ao mesmo tempo, o quanto antes puder e uhuuul. É que eu vou morrer. Você vai morrer. Os meus e os seus pais vão morrer, se é que já não morreram. Seus irmãos, cônjuges, e todo mundo que você conhece vai morrer, e seus bichos de estimação também.

Eu não sei se qualquer outra pessoa é capaz de me entender, e de entender o que eu sinto quando eu penso nisso. E não é que eu penso nisso uma vez ao mês, eu penso exatamente todos os dias. É um saco, me incomoda, eu fico triste, eu choro, mas fazer o que? Eu vou morrer de qualquer jeito.

Eu imagino como que vai ser o meu leito de morte. Se eu vou estar num hospital com toda a minha família, se eu vou conseguir dar tchau pra todo mundo ou se vai ser em um acidente inútil e rápido. Por um lado seria bom ser assim rápido, porque não dá nem tempo de pensar na idéia da morte, mas para os outros seria como um choque.

Outro dia morreu um menino que estudava comigo no pré, e da maneira mais imbecil que eu já vi. Todo mundo ficou assustadíssimo, inclusive eu. É incrível como morte precoce assusta as pessoas, mas acontece. As pessoas falam que não é a ordem natural das coisas, morrer o filho antes do pai, mas mesmo assim, acontece. Pode ser que seja injusto, mas de novo, acontece.

Eu já falei pros meus pais que se eu morrer antes deles, eu quero ser enterrada de pijamas. Nada daquela babaquice de por o vestido mais bonito e maquiar o defunto não. Quero ir de pijamas confortáveis e sem maquiagem, assim como se estivesse indo só dormir. E também não quero ninguém chorando por mim o resto da vida, porque já que a pessoa ta viva, então viva né, não adianta nada ficar chorando por alguém morto já que um dia você também vai morrer.

É LÓGICO que isso eu falo pros outros só pra ser mais fácil, porque se uma formiga morre, eu choro o dia todo praticamente. De verdade, uma vez na segunda série mataram uma mariposa no pátio do colégio e eu comecei a chorar, e todo mundo faz piada com isso até hoje. Eu não acho que é nenhuma piada até hoje também.

Eu sei que eu sou exageradamente sensível às vezes, mas eu me pergunto se sou eu que sou sensível ou se são os outros que se esqueceram de como é ser sensível. Claro que não é nada legal viver assombrada pelo dia da morte, mas eu acho que eu prefiro viver assim a não ligar pra mais nada.

Eu não entendo muitas coisas desse mundo. Eu nunca quis ser reconhecida pelo dinheiro, pela fama, por nada disso, eu sempre quis cativar as pessoas com o meu próprio jeito. Eu queria ser um exemplo de pessoa, e não quero que minha casa seja um exemplo de casa ou meu cabelo e minhas roupas sejam um exemplo de cabelo e roupas. Eu nem uso brincos, pelo amor de Deus.

Eu só não sei se eu sou um exemplo de pessoa para os outros ou se eu gosto tanto de ser como eu sou, que eu fico achando que todo mundo gostaria de ser como eu.

Mas isso é só uma opinião minha, uma pessoa que um dia vai morrer.

E eu não quero morrer.

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Eu.

Eu já estive em quase todas as partes do planeta.

Me mudei várias vezes para Londres depois de um acontecimento traumático, para começar uma nova vida. A primeira vez que eu fui para lá, a minha família foi junto, e nós moramos em uma casa linda de colunas. Meu quarto era no sótão, e tinha até aquelas escadinhas pra subir. Na casa da frente, morava Daniel Radcliffe, e fiquei amiga dele e de todos seus amigos. Íamos para a escola juntos toda manhã, e certo dia ele me fez alguma coisa ruim, e a gente brigou. Depois de milhares de pedidos de desculpas, eu o perdoei e fomos felizes para sempre.

Várias outras vezes eu fui para lá, como modelo do Fashion Week, estudante universitária, dançarina de hip hop e cantora.

Normalmente eu começo cantando em um pub escuro no subúrbio, até que as pessoas vão gostando cada vez mais de me ver cantar e o pub fica famoso, trazendo vários músicos para cantar comigo, como Rufus Wainwright e Bryce Avary.

Já cantei também em festival de escola, de faculdade, sempre uma surpresa para as pessoas que me conhecem e não sabiam desse meu lado. O interessante é que na minha banda, todo mundo toca todos os instrumentos e todo mundo canta, durante os shows nós fazemos rodízios. Claro que eu canto a maioria das músicas, porque geralmente eu sou a melhor no vocal, e claro que também eu sou a única menina da banda, porque tenho que ser o centro das atenções.

Eu sou a melhor dançarina de hip hop do momento, e quem me ensinou tudo foi Chris Brown. Com isso, participo de batalhas de hip hop que acontecem nas festas da ESPM ou no Banana’s, e sempre ganho. Já dei show em abertura de economíadas, porque no economíadas sempre tem uma abertura em um ginásio gigantesco, aonde eu danço hip hop, ando de skate, patins, e eu e meus amigos dançamos e cantamos o tempo todo.

Já dei aula de dança e ganhei concursos de dança latina. Já tive participações incríveis em shows do Eminem e do U2 e fiquei tipo melhor amiga deles depois. Não foram poucas as vezes que alguém me ouviu cantar sem querer em uma sala de aula e descobriu q eu tenho a voz mais bonita do mundo. A quadra inteira da ESPM já começou a cantar como num musical e a sala também. Eu sempre tocava guitarra em cima da mesa.

Sou uma ginasta incomparável, já lutei capoeira e fiz um amigo golfinho no mar. Já tive ciúmes de muitas garotas e depois fiquei melhor amiga delas, e me destaco em todos os esportes. Costumo falar com muitos animais e aprender bastante com eles, baleias orcas me entendem como ninguém.

Fui surfista na Austrália, na Califórnia, e humanitária na África. Outro dia mesmo um jovem de uns 17 anos veio querer me assaltar no farol e eu pedi para ele entrar no carro. Surpreso, ele entrou, e eu o levei para meu trabalho no zoológico. Ele nunca tinha ido ao zoológico e como bióloga, expliquei tudo sobre os animais pra ele e ele ficou muito emocionado e aprendeu muito. No final do dia, eu conversei com meu superior e o convenci a deixar o assaltante estudar na nossa faculdade de biologia que ficava dentro do zoológico, contanto que ele trabalhasse na manutenção do local nas horas vagas.

Nada mais legal do que ser um anjo escolhido por Deus. Quando completei 16 anos, os padres do meu colégio me chamaram e me contaram quem eu era, e que eu estava ali porque minha tarefa era destruir o anticristo, que não era nada mais nada menos do que meu namorado. E mais, contaram que ele sabia de tudo isso, mas que sabendo como meu coração era bom, eu não poderia matá-lo se o amasse, e que ele planejava me matar logo logo. A partir daí, entrei em um severo treinamento para dominar minhas habilidades. Aprendi a lutar e aprendi maldições em latim para acabar com meu adversário. O que eu tive mais dificuldade foi em me transformar em anjo, afinal minha aparência humana era só um disfarce, mas com o tempo eu consegui. Um dia, na escola, me descontrolei um pouco e minhas asas sem querer apareceram, e meu namorado viu. Quando ele descobriu, tivemos uma batalha alu-ci-nan-te, e no final eu o derrubei, pronunciei algumas palavras em latim e o mandei para o inferno para sempre.

Fui muito homenageada, andei de Jet Sky Voador, dormi na escola, fiquei presa em lugares com gente que eu não gostava e acabei virando amiga da pessoa, fiz muitas viagens, convenci muitos assassinos a não fazerem o mal apenas pelo uso da palavra, e às vezes bati neles mesmo. Fui também a primeira pessoa do mundo a ganhar um Prêmio Nobel sendo adolescente.

Já fui astronauta, explorei o espaço, e também o fundo do mar. Fiz descobertas importantíssimas para a ciência e o mundo. Acabei com a corrupção e fui um exemplo para as crianças de hoje em dia, trabalho voluntário é uma das coisas que eu mais faço.

Mas como ninguém é de ferro, também sou rica e dinheiro nunca é problema, mas eu ganho ele fazendo coisas que eu gosto. Casei em uma catedral e tive dois filhos, um menino mais velho e uma menina mais nova. Eles se dão super bem, e eu sou a melhor mãe do mundo, ensino aos meus filhos valores, e não deveres.

Minha casa parece uma floresta, eu tenho animais exóticos e animais normais, entre eles cães, gatos, coelhos, tigres brancos, leões, cacatuas e belugas, orcas, golfinhos, pingüins e focas.

Durante toda a minha vida eu sempre fui uma pessoa de respeito, nunca passei por cima de ninguém para conquistar o que tenho, e o amor dos outros é a única coisa que realmente importa para mim (vida real ou vida de pensamento).

Nessa altura aposto que todo mundo já sabe como é que eu faço tudo isso.

É sem nem sair de casa.

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Mundo do Sono.

Existe um lugar para onde todos nós vamos todos os dias, um lugar chamado Sono.

Todo mundo sabe o que é o Sono, como ele acontece e suas conseqüências, mas ninguém sabe para onde realmente vamos quando estamos dormindo.

Muitos falam em Sono REM, Sono NREM, estágios 1, 2 3 e 4, etc etc, mas como saber para onde vai a nossa consciência nesse tempo?

Foi aí que eu decidi fazer a Viagem do Sono, para descobrir todos os mistérios que rodeiam as nossas noites.

Os preparativos da viagem eram simples: eu só teria que flagrar uma pessoa quase dormindo e me agarrar à sua alma, para que ela me levasse junto rumo ao nosso destino, então foi isso o que fiz.

Com muita cautela, esperei silenciosamente Cassio dormir. Era muito importante que ele não soubesse o que eu estava tramando, se não era capaz que ele não conseguisse dormir profundamente. Quando a sua respiração começou a ficar mais pesada, percebi que essa era a hora, então cuidadosamente me prendi à alma dele e partimos em nossa jornada.

Confesso que tudo o que vi foi totalmente inesperado, e peço-lhes para não contar meus relatos a ninguém. Não sei o que aconteceria se muitas pessoas ficassem se agarrando às almas das outras para ir para o mundo do Sono, ele não foi feito para corpos de carne e osso.

Quando partimos, fomos direto para cima, em direção ao espaço. Fiquei com medo de ficar sem ar, de me soltar e cair, mas logo deu para ver que não era o espaço de verdade, era um outro tipo de espaço, e percebi também que se eu me soltasse nada aconteceria comigo, pois havia uma espécie de campo em volta de nós que não nos deixava mudar de direção.

Esse tal de campo nos deixou em uma pequena nuvem. Obviamente vocês devem estar pensando “Nuvem? No espaço?” Mas como eu disse antes, esse espaço era diferente, ele tinha nuvens. Ao chegarmos à nuvem, Cassio começou a se mover de um modo estranho, e então percebi o que ele estava fazendo, ele estava comendo a nuvem enquanto dormia! Achei muito esquisito, mas entrei no clima e dei uma pequena mordida também. Ao morder, um grande espanto! Não era nuvem coisa nenhuma, se tratava de um gigantesco algodão doce! Parece que a tarefa era comê-lo, então ajudei ele a comer.

Quando só faltava o pedaço de algodão em que estávamos sentados, eu fiquei em dúvida se deveria comê-lo ou não, afinal, cairíamos, mas Cassio parecia não apresentar dúvida nenhuma, e comeu o pedaço restante de algodão que nos segurava.

Imediatamente caímos, e continuamos caindo por mais ou menos 30 segundos, até atingirmos um grande mar. No mar, havia milhares de pessoas boiando, assim como nós, e me dei conta de que deveriam ser todas as pessoas que estavam dormindo no momento.

Em meio aos corpos flutuantes, havia barcos pequenos, como canoas, e dentro se encontravam os Sentinelas Azuis. Eram homens belos, altos e fortes, e pareciam ter um único propósito: vigiar. Quando reparei melhor, vi que eles levavam consigo arco e flechas, mas não sabia o porquê.

Foi então que eu vi. O sentinela ao nosso lado começou a atirar em uma criatura enorme. Não consegui ver exatamente do que se tratava, mas vi algo assustador, parecido com um rabo gigante, como de um dragão. Esses bichos assustadores estavam puxando algumas pessoas aleatoriamente para o fundo do mar, e fiquei com medo que me puxassem também.

Enfim chegamos à terra firme, sãos e salvos. Olhei ao redor e vi milhares de ilhas iguais a ilha em que nós nos encontrávamos, cada uma com um grande farol no centro. Também não havia plantas, somente areia, e milhares de pessoas deitadas, distribuídas cuidadosamente pela superfície. Ao redor das ilhas existiam mulheres, todas vestidas de branco e com um olho só no centro da testa. A visão era grotescamente bonita, eu não sabia se sentia atração ou repulsa pelas moças de branco.

De repente um daqueles seres do mar veio em direção à ilha e atacou uma das mulheres. Agora eu podia ver que não se tratavam de dragões, mas de algo que eu nunca tinha visto antes. Ele tinha corpo de enguia, porém com patas, e rabo de dragão. Sua cabeça era o mais assombroso de tudo, tinha feições de tigre, e consistência de peixe pedra.

Um grupo de mais ou menos dez moças de branco se juntou para combater o tal monstro e de seus olhos saiu uma luz fortíssima, tão forte que demorou alguns minutos para que eu pudesse enxergar novamente, e quando pude ver, o monstro tinha ido embora.

Enquanto eu ainda me recuperava do susto, escutei uma voz me chamando: “psiu, ei, psiu”. Virei-me para ver o que era e dei de cara com um anão muito velho e fui em sua direção.

O velho anão se chamava Norberto, e ele me explicou tudo sobre aquele mundo. Eu perguntei sobre os vigilantes azuis, as vigilantes brancas de um olho só, os monstros do mar e tudo mais. Ele me disse que os Sentinelas Azuis protegiam o mar dos monstros e as Sentinelas Brancas protegiam a terra dos monstros, porque eles também podiam andar na terra.

Até aí eu já fazia um idéia que eles serviam para isso, mas não podia imaginar o que acontecia com as pessoas que eram pegas pelos monstros, então ele me disse que aquelas que eram pegas, eram levadas para um lugar chamado Abismo do Pesadelo.

O Abismo do Pesadelo não é nada mais nada menos do que um lugar para se ter pesadelos. Isso quer dizer que quando uma pessoa começa a ter um sonho ruim é porque um desses monstros a pegou e levou-a para o abismo, e a tarefa dos vigilantes era assegurar que as pessoas tivessem sonhos bons.

Mas às vezes não era preciso ser pego por um dos bichos para ter pesadelo. O Norberto me contou que quando as pessoas vão dormir muito pesadas, com muitas preocupações, elas acabam afundando sozinhas.

Aquele lugar era realmente bonito, seria um bom lugar para viver. Mas então o velho anão me disse que lá era impossível para pessoas normais dormirem, e que ele não dormia há anos. Ele já nem fazia idéia há quanto tempo ele chegou na ilha, mas ele tinha noção de que envelhecera muito mais rápido do que o normal, foi como se tivesse envelhecido décadas em pouquíssimo tempo. E também me contou que na verdade ele nunca fora um anão, mas que acabou encolhendo naquele lugar.

Na mais lógica obviedade, perguntei por que ele não voltava para o nosso mundo, e ele me disse que no dia em que chegou, se maravilhou tanto com o lugar que se esqueceu de voltar, perdendo a pessoa com que veio para sempre. Acontece que uma vez amarrado à alma de uma pessoa, só se pode voltar pela mesma pessoa, e desde que ele se perdeu, ele tenta achar suas amarras, mas são tantas pessoas que nunca conseguiu.

Depois da nossa conversa, me despedi e tratei de achar o Cassio rapidinho, e no momento que eu o achei, ele estava começando a flutuar novamente em direção ao mar. Me senti muito aliviada de ter chegado a tempo, mas quando fui me agarrar a ele de novo, algo me puxou para trás. Era Norberto. Ele não queria que eu fosse embora, fazia muito tempo que ele não conversava e nem via ninguém desperto.

Em meio ao meu desespero para me soltar de Norberto, um dos monstros esquisitos pulou da água para a terra, diretamente em cima do anão. Rapidamente me agarrei ao Cassio e vi o anão sendo arrastado para o fundo de relance, e depois luzes muito brancas.

Ceguei por um instante.

A próxima coisa que vi foi o teto do meu quarto e meu namorado, são e salvo, ao meu lado.

Ele acordou e me perguntou se estava tudo bem, pois parecia que eu tinha acordado assustada. Eu disse que estava tudo ótimo, e virei para o outro lado.

Olhei para o relógio e só tinham se passado 18 minutos desde que havia olhado pela última vez.

Passei as próximas duas horas acordada repassando em minha mente tudo o que tinha visto. Olhei pro Cassio, agora dormindo de novo, e podia imaginar exatamente onde ele estava agora. E pensar que ele não fazia a menor idéia da onde eu havia estado, e da aventura que passamos juntos naquela noite.

De repente fiquei com medo de nunca mais conseguir dormir de novo, como Norberto, mas era só um medo bobo, logo eu dormi.

No dia seguinte, ao recordar de meus sonhos, percebi que não tinha tido nenhum pesadelo.

Aparentemente, os Sentinelas andam fazendo um ótimo trabalho no Mundo do Sono.

terça-feira, 29 de julho de 2008

Mergulhando em bananeiras.

Em alguma época da história, foi inventado o tempo. Claro que o tempo sempre existiu, mas a consciência do próprio nem sempre. Os humanos começaram a sentir a necessidade de controlar tudo o que faziam, e atribuíram essa função ao tempo. Com a chegada do tempo, vieram também as obrigações, e com isso, a rotina.

Dia comum de uma pessoa comum: acordar na mesma hora todo dia. Tomar o mesmo café da manhã, o mesmo banho, ler o jornal daquele respectivo dia. Sair de casa para ir para o mesmo lugar, pegar o mesmo trajeto com o mesmo trânsito. Trabalhar na mesma mesa, com o mesmo computador, conversar com as mesmas pessoas sobre os mesmos assuntos chatos e supérfluos, almoçar no mesmo lugar, voltar ao trabalho de novo, e no final do dia pegar o mesmo caminho ao contrário, desta vez com mais trânsito ainda. Chegar em casa, comer, tomar banho, dormir. E ainda se preocupar com quantas horas vai dormir para que no dia seguinte possa repetir a mesma coisa novamente.

Quantas vezes por dia ouvimos ou pensamos coisas como “não vai dar tempo”, ou “é hora do almoço, do jantar, da novela, etc.”? Ou ainda “Já era hora” “Você está atrasado”, e tudo mais? Quantas vezes não nos preocupamos com os milhões de horários, de afazeres, de complicações?

As pessoas são praticamente obrigadas a almoçar entre o meio dia e as duas da tarde, só porque todo mundo faz igual. Comer salada e fazer exercícios só porque faz bem, assistir ao noticiário só para não se passar por ignorante. “Não durma tarde” “Não beba isso” “Não chegue depois da meia noite” “Não admito” “Não deixo” “Não quero” NÃO NÃO NÃO NÃO NÃO NÃO NÃO NÃO NÃO NÃO NÃO NÃO NÃO E NÃO!!!!!!!!!!!!

No final das contas, a única coisa que estão querendo nos dizer é: “Não mergulhe muito fundo. Fique no raso, na margem de segurança, veja como aqui é seguro, aqui você não pode se afogar.”

O objetivo deste texto não é ir contra todos os costumes da sociedade, é sobre descobrir uma verdadeira paixão. Algo que te faça mergulhar de cabeça, bem lá no fundo, e não ter medo de se afogar.

Se eu amo tomar sorvete, porque não posso fazê-lo no frio? Se eu me sinto muito mais confortável descalça, porque teria que usar sapatos? Se eu quiser almoçar às três da manhã, o que isso muda? Se eu quiser passar minha vida inteira plantando bananeira, isso muda minha relação com as pessoas ao meu redor? Vão me achar louca e por isso me abandonar? Vão tentar me convencer de que ninguém vive só de plantar bananeiras ao ar livre? Pois eu lhes digo: se plantar bananeiras for minha paixão, bananeiras plantarei.

Todos nós deveríamos agir de acordo com as nossas vontades e não de acordo com um consenso imposto pelo mundo. Não está com sono? Não durma. Está com sono? Durma. Simples assim. Não gosta do seu trabalho? Demita-se, dinheiro só é problema se você lhe der importância. Não, não acho que todos devemos fazer festa nas ruas e vagabundear por aí. O que eu digo é muito mais do que isso, é ser sincero consigo mesmo. Como já disse, não falo de anarquia, falo de paixões com propósitos.

Falo de quebrar a rotina, de dar menos importância a coisas que não deveriam ser tão levadas a sério. Falo de chacoalhar a pessoa ao lado e perguntar se ela realmente está satisfeita com a sua vida de pessoa comum. Se estiver, ótimo, nada melhor do que estar satisfeito. Se não estiver, faça-a a perceber que vida só há uma, e que não adianta ficar esperando algo de extraordinário acontecer sentado em uma cadeira.

E não falo daquela baboseira toda de carpe diem, aproveitar a vida ao máximo, fazer tudo ao mesmo tempo por achar que lhe falta tempo. O tempo é a coisa mais besta que a humanidade inventou. Deveríamos viver de acordo com nós mesmo, e não de acordo com o tempo, seja aproveitando-o ou jogando-o fora, o que mais lhe convier.

Em um resumo simples: Mergulhe em bananeiras. Ter medo de se afogar é inevitável, mas uma vez que você chega ao fundo, será como nada que você já viu antes.

Copos.

Eu acho fantástica a idéia de comprar um requeijão, e de quebra, ganhar um copo. Não existe coisa mais simples e prática do que isso. Precisa de um copo? Compre um requeijão.

Quando eu era pequena eu adorava copos de requeijão. Principalmente aqueles todos coloridos com desenho. Quando eu viajava para Tatuí com o Nerilis, na casa dele sempre tinha copos com desenho, eu achava muito legal.

Aí eu fui crescendo, todos fomos. E de repente, copo de requeijão passou a ser uma coisa feia, motivo de chacota entre os mais esnobes. Copo de pobre. Copo que pobre compra porque não tem dinheiro pra comprar outro melhor.

Copo é copo. Serve para encher de líquido e beber, nada mais que isso. Eu não vejo o motivo de preconceito contra copos. Claro que sempre haverá copos mais bonitos, como um que eu vi outro dia. Ele tinha uns reflexos azuis, um quê de bioluminescência, e o mais curioso disso é que a cor parecia vir de baixo, entretanto, quando você virava o copo para ver, a cor parecia vir dos cantos, impossível achar de onde vinha!

Copos de vidro, copos de plástico, copos de cristal, coloridos, copos de acrílico, todos copos. Quando eu crescer e tiver minha própria casa, eu vou tomar café da manhã com copos de cristal, almoçar com copos de plástico e servir copos de requeijão para as visitas. Algumas pessoas com certeza vão rir, ou falar que é falta de educação, mas no fim, qual é mesmo a grande diferença?

De qualquer jeito, eu continuo achando fantástica a idéia dos copos de requeijão.

sexta-feira, 25 de julho de 2008

Sabrina.


A Sabrina é minha amiga há mais ou menos dez anos.

Lembro muito bem quando a gente se conheceu. Era verão, eu estava com dor de ouvido e alergia a chocolate, ela estava com fome e sede. Com isso, eu a acolhi em minha casa alugada de praia, no Lázaro, em Ubatuba.

Trouxe-a para São Paulo para morar comigo, e desde então nos tornamos amigas inseparáveis. Era difícil me acostumar a dividir tudo com ela, mas com o tempo aprendi a dividir meus cobertores, minha cama, minhas roupas, minha comida e minha paciência.

A Sabrina não é nada fácil. Só toma água se for bem gelada no copo de vidro, e peixe então, só salmão e olhe lá. Senta em cima do meu computador sem nenhuma cerimônia, sem contar o fato de que ela gosta de me irritar fazendo barulho com moedas de noite e insiste que eu dê comida para ela na boca! Eu não dou não, porque depois de dez anos eu ainda acredito que ela tem que aprender a comer sozinha, morrer de fome ela com certeza ela não vai. E também tem as incontáveis vezes que ela me acorda no meio da noite para que eu satisfaça algum de seus desejos, como abrir a porta do quarto, entrar debaixo das cobertas e tudo mais.

Apesar de toda a folga sem vergonha, ela já me ajudou em várias situações. Me faz companhia sempre que eu estou doente e preciso de descanso (descanso é com ela mesmo), sempre percebe quando eu estou triste e vem me consolar de algum jeito. Ela é uma das pessoas (ela tem certeza que ela é uma pessoa) mais sensíveis que eu já conheci, sabe o que fazer ou falar na hora certa.

Ela também já passou por alguns perrengues na vida. Morre de medo de secador, aspirador, e como foi recentemente descoberto, tem medo de bolinhas de sabão. Foi muito duro para ela quando nós decidimos acolher seus irmãos adotivos. Primeiro veio a Nikita, quando ainda era bebê. Encontramos Nikita no nosso jardim e decidimos cuidar dela. Apesar de ter sido criada em berço de ouro, ela se tornou um tanto quanto brava. Chegar perto dela às vezes é sinônimo de loucura, mas ela é tão bonita e gordinha que é impossível resistir.

Depois veio o Ô-Ô. Sim, esse é mesmo o nome dele. O ô-ô já chegou numa idade avançada, mas resiste bem o velhinho. É tão bobão que você pode virá-lo de ponta cabeça, jogá-lo pra cima que ele não faz nada. Mas tome cuidado, quando ele se irrita é encrenca na certa, sua vida nas ruas o ensinaram muitas coisas. Alguns anos depois, veio a Molly. A Molly é meio chata para falar a verdade. Nunca conheci alguém tão carente e inconveniente em toda a minha vida. Grudenta, faz questão de colar no meu pé a toda hora. Mas ela é fofinha de vez em quando.

A Sabrina também já passou por momentos difíceis quanto a sua saúde. Certa vez, fomos a um médico que receitava anticoncepcionais para ela, e num momento posterior descobrimos que ela já não possuía mais útero, uma maneira para extorquir dinheiro e prejudicar sua saúde. Ao longo dos anos, ela contraiu doenças de pele várias vezes, devido ao stress e uma possível alergia a leite, ficando com uma aparência desagradável, que mais lembrava um aborto genético. Recentemente, ela operou um negócio calcificado que começou a crescer para fora de sua barriga, e com a recuperação da cirurgia, também seus pêlos voltaram ao normal e sua saúde está intacta.

Nós brincamos muito, eu e ela, mas às vezes ela exagera e nós acabamos brigando. Brincar com ela pode ser perigoso se você não estiver acostumado a se esquivar rápido de seus golpes. Normalmente, ela corre atrás das minhas mãos, tentando pegá-las, às vezes até brincamos de pega-pega, mas ocasionalmente eu me irrito e acabo quase mordendo ela também. Nunca a mordi não, mas de vez em quando eu a deixo de castigo, proibida de deitar em cima de mim pelos próximos cinco minutos, mais tempo do que isso eu não agüento.

Apesar de sua vitalidade e sua saúde estar boa, não posso negar que já nos conhecemos há dez anos, e que antes disso, eu não faço a menor idéia há quanto tempo ela já existia. Portanto, é verdade quando digo que não faço a mais porca idéia de quantos anos ela tem. Eu calculo que deve ter uns 12, 13, mas quem sabe?

O dia que ela morrer, duas coisas podem acontecer: ou ela continuará sempre viva comigo em meu coração, ou uma parte de mim morrerá junto com ela. Eu, particularmente, acho a 1ª opção mais agradável.

Mas por enquanto deixemos esse assunto de lado.

Para mim ela é eterna, e sempre vai ser.

terça-feira, 15 de julho de 2008

Revolução dos Peixes.

Lago Titicaca, altiplano dos Andes, fronteira do Peru com a Bolívia.


Naquele sábado, Junya Atawalpa descansava no leito do lago como fazia todos os finais de semana, desde seus cinco anos de idade. O dia estava tranqüilo, o sol brilhava na linha do horizonte e lua localizava-se logo acima, em uma imponente forma de meia lua. Para os turistas, aquilo era uma imagem maravilhosa, mas Junya já estava acostumado com a beleza do lugar e não se surpreendia facilmente.

Distraído em meio a seus pensamentos, avistou um pacote de salgadinhos e começou a comer, quando se deu conta de que o pacote não estava lá antes. Neste momento sentiu uma dor excruciante, de uma lâmina afiada perfurando o seu céu da boca até atingir seu osso temporal e sair logo acima da sua orelha direita.

Quando ele finalmente se deu conta de que se tratava de um tipo de anzol gigante amarrado a um fio, algo começou a puxá-lo para baixo e para frente, diretamente para o lago. Por mais que ele tentasse impedir, aquela força era mais forte do que ele, e acabou sendo levado água abaixo.

Essa tal força o estava puxando rapidamente, cada vez mais para baixo e Junya começou a perder a pressão. Apesar de ser um ótimo mergulhador em águas marinhas, mergulhar em rios, principalmente em altas altitudes, era outra história. Com o aumento da altitude, a pressão atmosférica diminui gradativamente, e isso faz com que os mergulhadores tenham que realizar certos ajustes no ato da descompressão, e Junya não havia aprendido a fazer esses ajustes. Seu fôlego, pelo menos, era excepcional.

Ele olhou com mais atenção para a criatura que o levava e percebeu que se tratava de um enorme peixe, cuja espécie ele não conseguia definir. O que era extremamente estranho, já que nessa época do ano, o verão, o aquecimento das águas marinhas nos vales fluviais provoca a morte dos plânctons, o que conseqüentemente leva à diminuição de peixes na região.

Ao chegar ao destino, Junya se viu em meio a vários outros peixes iguais. Eles eram gordos, enormes, tinham dentes descomunais que saíam da boca, o que lembrava a aparência de piranhas, só que numa proporção muito maior do que piranhas comuns. Mas o mais esquisito de tudo isso é que esses peixes estavam se comunicando de algum jeito. Todos pareciam ter suas próprias tarefas e saber o que faziam.

Junya foi posto em uma espécie de tábua de pedra e três dos peixes esquisitos começaram a examiná-lo, pareciam sorrir enquanto o observavam perder o ar e desesperar-se. Um dos peixes moveu sua barbatana em direção a ele, e logo ele soube que barbatanas eram um instrumento ótimo para retirar pele humana. Junya foi obrigado a testemunhar um peixe retirando sua pele, e mais peixes se juntarem ao trabalho, até que Junya se transformasse em músculo apenas, irreconhecível.

Esse foi o primeiro caso de pessoas pescadas por peixes. No mundo inteiro, tanto em lagos como nos oceanos, casos semelhantes começaram a acontecer. Nem sempre os peixes comiam suas vítimas como aconteceu com Junya, às vezes as pessoas até eram devolvidas para terra firme depois de levadas para o fundo.

E esse foi apenas o início.

terça-feira, 8 de julho de 2008

Live alone, die together.

People...

I never understood why there's a different word for the singular (person) and the plural (people).

It actually doesn't make sense at all, a lot of "persons" named with their own word, cuz people really don't stay much longer.

No matter what you do, no matter what you say, one day they finally leave.

They might not physically leave, but you know they're not the same. You know they're there for some particularly reasons that you prefer not to mention to anyone. Or you might mention for a few people, but it wont matter anyway, cuz these few people one day will be leaving too.

You know what they say, "live together, die alone"! I might as well say, "live alone, die together", cuz the only thing all people in this world together do is die. That's something you can't avoid, can you? It's common law.

One way or another, they always come and go. Mothers, fathers, friends, lovers, they're all the same. Heart breakers, reckless people, who don't give a shit.

And when you decide you love them deeply, that's when they leave, and in consequence you become more and more in love, because you really miss them. Every thing you do and see, reminds you of them, but there's really nothing you can do about it. You dream about them every single night for YEARS, and still, they just don't care, do they?

And when you get a chance to meet them accidentally, they make sure to show you how happy they are and how much they don't need you. You can't stand staring at them, so you pretend you don't mind, you even pretend you don't love them anymore. But then there comes the night, and you can't hide from your dreams.

I wish that that sentence was right, that we really could live together and die alone, or die together, too. But unfortunately, i realized that's not possible.

I wish I didn't need anyone, cuz in the end, everybody leaves.

terça-feira, 1 de julho de 2008

Alívio.

O dia em que Tom nasceu foi um dia como outro qualquer. Em meados de outubro, o tempo estava começando a esfriar e chovia lá fora. Como sua mãe saíra desprevenida de casa naquele dia, e a chuva viera de repente, ela, Lynette McGregor, havia se molhado muito na volta para casa, não percebendo que sua bolsa estava agora rompida, e seu filho, prestes a nascer. Somente com a chegada das cortantes contrações ela se deparou com o inevitável: teria um filho nos próximos momentos, e precisava chegar logo ao hospital.

Sua chegada ao hospital foi tranqüila, assim como o parto e seu pós-operatório. Seu filho, batizado com o nome de Tomas McGregor, era completamente saudável. Pesava por volta dos 3 quilos e meio e tinha cabelos muito pretos e finos, como os do pai. Pelo que tudo indicava, parecia que seus olhos eram castanhos, mas dentro de alguns dias de vida, se revelaram verdes, como os da mãe.

Contradizendo toda a normalidade do seu nascimento, Tom não era um menino nada convencional. Alguns diziam que ele tinha algo de misterioso, outros o chamavam de louco, outros simplesmente o descreviam como esquisito. O fato é que Tom tinha algo de diferente, e ninguém poderia sequer imaginar o que era.

Desde que Tom nascera, era desenvolvera uma estranha habilidade: ele podia sentir o que os outros estavam sentindo, e isso o afetava de várias maneiras. Demorou um pouco para Tom perceber o que exatamente acontecia com ele, uma hora ele começava a rir incontrolavelmente, tinha acessos de raiva furiosos ou até mesmo começava a chorar em situações totalmente inusitadas. Nenhuma criança ousava chegar muito perto dele, nem mesmo os adultos gostavam muito de sua companhia, pois ninguém sabia qual seria sua próxima reação.

Tom não conseguia entender o porquê de seus sentimentos, não compreendia porque ele havia chorado numa ida ao circo ou porque ele havia batido em quase todos os seus colegas de classe. Mas uma coisa era certa: ele sempre percebia quando alguém estava mentindo.

Permita-me deixar as coisas um pouco mais claras. Tom nunca conseguira acreditar em Papai Noel, Coelho da Páscoa ou Fadinha do Dente, por saber quando sua mãe estava inventando histórias para ele. Agora imaginem como sua infância foi difícil, seus colegas sempre queriam brincar de algo relacionado a conto de fadas e historinhas infantis, e ele ficava tentando convencê-los de que elas não existiam. E quando alguma das crianças ficava brava com ele, ele podia sentir a sua raiva e se tornava agressivo, e logo ele percebeu que o melhor para ele e para os outros seria se ele simplesmente se afastasse de todos.

Conforme ele foi crescendo, começou a entender da onde vinham todos aqueles sentimentos que não pertenciam a ele, vinham de outras pessoas. Com o passar dos anos, Tom foi aprendendo a separar os seus próprios sentimentos dos sentimentos alheios, mas nunca deixou de senti-los. Durante muito tempo ele tentou ignorar os sentimentos dos outros, mas isso foi ficando cada vez mais difícil.

Aos 12 anos, Tom havia há muito tempo perdido o respeito pelos seus pais. Somente ele sabia a capacidade do ser humano de dissimular, e por mais que seus pais tentassem, eles não conseguiam amar Tom pela pessoa que ele era. Era mais do que óbvio que eles foram ficando mais desapontados à medida que Tom crescia, como todos, o achavam muito estranho e tinham certo medo dele.

Ele não sabia realmente o que uma amizade significava. Jamais havia conseguido confiar em ninguém, e nem queria. Por sua condição especial, Tom achava que era único, e que não precisava de mais ninguém para enganá-lo.

Sua sorte no amor fora a mesma. Aos 19 anos, Tom começou a sentir necessidade de companhias femininas, mas nenhuma garota era boa o suficiente para ele. Às vezes, ele percebia que a garota gostava muito mais dele do que ele dela, outras, ele sabia que ele havia se apaixonado e ela não. Mas o pior de tudo não era isso, era saber exatamente quando elas queriam esconder algo.

Durante toda a sua vida, Tom procurou alguém que fosse puramente verdadeiro, mas nunca obteve sucesso em sua empreitada. Ele conheceu uma boa mulher e casou-se com ela, mas o casamento não foi duradouro, como nenhum de seus romances desde então.

Trabalhou como detetive na área de homicídios a vida inteira, entrevistando possíveis culpados para os crimes que ele investigava. É claro que ele sempre sabia quem era inocente ou culpado, mas muitas vezes a justiça não era feita por falta de evidências, e muitas vezes ele era obrigado a assistir pessoas inocentes irem para a prisão por culpa de falsas evidências.

Sua vida havia sido dura, mais difícil do que a vida de qualquer outra pessoa no mundo. No seu 83º aniversário, a morte veio lhe fazer uma visita, e quando ele a viu, perguntou: “Porque demorou tanto?”

Ela lhe deu um sorriso e o levou para sempre.

De seu primeiro casamento, nasceu Matthew McGregor, meu pai. Matthew, ou Matt, como era chamado, fez questão de usar a sua habilidade para outros fins. Viciado no jogo, usava o seu dom para trapacear em cassinos do mundo todo e se divertia com festas e mulheres à vontade. O fato de que ele nunca conseguiria amar ou ser amado nunca lhe incomodou.

Eu o vi apenas uma vez, o meu pai. Ao lhe dizer que eu era seu filho, eu imediatamente soube que ele não queria saber de mim, então nunca mais o procurei. Mas antes de despedir-se, ele me deu o telefone de seu pai, Tom, e me disse para procurá-lo.

Quando conheci o meu avô, pude sentir que ele estava realmente feliz em me ver, mas também senti uma tristeza profunda, como a que eu sentia. Eu perguntei para ele se algum dia isso tudo ia parar, e ele disse que eu poderia tentar me acostumar a viver com isso, mas que não pararia por mais que eu quisesse.

Durante anos eu tive raiva da minha situação, e durante anos eu tentei mudá-la de algum jeito. Tentei usar esse “dom”, que eu apelidei carinhosamente de “maldição”, para o bem das pessoas, como o meu avô fazia, mas não houve meios de parar minha própria frustração.

A história que eu acabei de lhes contar, foi a história de meu avô Tom, que ele me contou pouco antes de morrer. A minha história, veja bem, não foi nada diferente da dele. Por isso, espero que vocês todos entendam o meu sofrimento, e percebam que eu não posso mais levar essa maldição à diante.

Estou desistindo da minha vida, pois isso não é viver, e sim morrer um pouco mais a cada dia. Assim também estarei fazendo um favor aos filhos que não terei.

É com grande alívio que eu escrevo minhas últimas palavras.


domingo, 29 de junho de 2008

Hotel Room

Once upon a time there was a boy and a girl in a hotel room.

They were making passionate love, that kind of sex u'll only get to know once in your life.
A mixture of savagery and tenderness, a rare thing. They practically didn't know each other, they actually knew nothing, only that feeling that were automatically moving them up and down.

They did it on the bed, on the floor, even in the closet. they've opened the curtains for the hole town of London to see. And when they were exhausted he laid down on the bed and took a deep breath. She entered the shower.

After a few minutes she was there, he appeared. And then she didn't want to do it anymore. But the boy had a wonderful capacity of persuasion, and so he convinced her, and there they were again.

But her willing was not the same, she was no longer doing it as an animal, but as a lover, and that was the moment she realized that.

She waited him to finished what he'd started, because she didn't want him to know, not him. And than she thank God they were in the shower, so he couldn't see the tears falling down her face.

She left him in the shower, and got dressed. He asked her to stay that night, she left without saying a word. At first, he was pretty mad, but then he realized he was gonna miss her like no other.

He ran for her, as if he depended on it to keep living, but it was too late.

He never saw her again.

Luzes

Eu queria escrever um texto sobre luzes, mas cá estou eu, sem idéias.

Eu pensei em escrever sobre a criação da luz, sobre os tipos diferentes de luzes, mas que na verdade são uma luz só. Sobre a como a luz sempre está presente em todos os lugares claros, e, quem sabe, escrever um pouco sobre a escuridão também.

A minha luz, de fato, seria uma luz muito mais ingênua do que todos pensam que as luzes são, e ela demonstraria todo o seu horror sobre as coisas que ela vê todos os dias, e eu também contaria que a escuridão acontece pelo simples gesto de a própria luz fechar os seus olhos. Pouca luz seria deixá-los entreabertos, claro.

"Mas como a luz poderia estar apagada em um lugar e acesa em outro?", você me perguntaria. E eu lhe responderia o óbvio: a luz é onipresente. É como se ela fosse composta de várias luzes, mas no fundo ela é uma só. Qualquer analogia com Deus é mera coincidência.

Aí você me perguntaria: mas então você está querendo dizer que a luz é Deus? E, de novo, eu responderia o óbvio:

Claro que não! A luz é luz, e Deus é Deus, mas toda aquela história de que Deus criou o ser humano à sua imagem e semelhança é pura enganação. Foi a luz que Deus criou à sua imagem e semelhança, e não o ser humano.

No desenrolar da minha história aconteceriam coisas, digamos, inusitadas. Por exemplo, eu poderia falar que a luz às vezes acaba nas casas porque ela tropeçou em um pedacinho de som que gostava de correr maratonas. Ou então, eu poderia dizer muitas coisas sobre as cores da luz, relacionando com o seu estado de espírito, mas não sei, nada me pareceu suficientemente bom para falar sobre luzes.

Uma coisa que eu sei é que eu gosto muito de luzes, e queria fazer uma história sobre elas.
E na minha história, a luz vai ser diferente de todas as outras luzes que vocês já viram.

quarta-feira, 25 de junho de 2008

Jet Ski Voador

Eu devia ter uns sete anos de idade quando tive esa idéia, de ter um jet ski voador. É o meio de locomoção mais genial que existe! É como se eu estivesse andando no mar, só que ao invés de ondas e correntezas marítimas, eu dirijo atravessando as correntes de ar e o vento. Ao invés de um colete salva vidas, há um cinto de segurança e um pára-quedas, para o caso de um choque acidental com um passarinho, ou qualquer animal que também seja voador como eu.

Parece que foi ontem a primeira vez que eu andei com meu Jet Ski Voador, eu me lembro muito bem. Havia um Vale, cachoeiras, um céu azul magnífico, e todos os meus amigos da escola estavam lá. Depois de aterrissarmos no Vale, montamos acampamento e brincamos com tigres falantes e sapos que dançavam à beira do rio.

A minha barraca era azul, e a noite nós fizemos uma fogueira que era verde, e cantamos junto a todos os animais da floresta. Lá eu descobri que as vozes mais bonitas do mundo não eram dos passarinhos como eu pensava, e sim das girafas. É, na verdade, por isso que elas têm um pescoço daquele tamanho, porque suas cordais vocais são tão grandes que não poderiam caber em um pescoço menor. O resto da noite foi amarela, cheia de brincadeiras e gargalhadas. Havia lá um pequeno arbusto que vivia saltitando, e insistia em fazer cócegas em todas as pessoas em que ele esbarrava.

Na hora de dormir, eu e meus amigos decidimos que não havia sentido em dormir dentro das barracas, pois percebemos que não havia o que temer do lado de fora. Até aqueles bichinhos que nós tínhamos medo, tais como cobras e aranhas, haviam entrado na brincadeira e agora brincavam de esconde-esconde com um grupo de meninos perto de uma macieira. O difícil da brincadeira não era achar as pessoas e os animais escondidos, e sim achar a macieira na hora de contar de novo, porque ela ficava pregando peças em todo mundo, mudando de lugar e tentando se disfarçar de eucalipto, o que era, obviamente, facilmente percebido.

E naquela noite dormimos juntos com os animais, e ao acordar, eles já tinham se ido, voltaram às suas vidas normais de animais de floresta.
Com isso, fomos embora. Nos próximos meses, voltamos lá todos os dias, mas à medida que os anos foram passando, meus amigos foram deixando de ir, por conta de seus inúmeros afazeres do dia-a-dia.

Alguns até jogaram seus Jet Skis Voadores fora, outros o guardam de lembrança, e outros, ainda, têm esperança de um dia voltar a utilizá-lo. Todos eles me dizem que não têm mais tempo de ficar de conversinha com animais, e que eu sou uma tola de continuar voltando lá.

Eu apenas lhes digo: é a melhor parte do meu dia.

quarta-feira, 18 de junho de 2008

Algodões Lácteos

Era uma vez uma menina colorida que se chamava Lisa.
Lisa era uma menina muito doente, e por isso, sua mãe nunca a havia deixado sair de casa no inverno. "Deixe-me sair mamãe, de nada vale a vida se ela não é aproveitada" - dizia Lisa. E sua mãe respondia: "Minha filhinha, meu amor. Se você tornar a ficar doente mais uma vez, a culpa será toda minha, não posso deixá-la sair neste frio tão intenso."
E assim foi a vida de Lisa, durante o verão e a primavera ela ia à escola, brincava com seus amigos e fazia tudo o que uma criança normal faz. Quando se aproximava o outono e o inverno, ela passava a ter aulas em casa e todas as janelas permaneciam fechadas, até que o calor voltasse.
Durante todo o período de frio, Lisa ficava tentando escutar o que se passava lá fora, e sempre ouvia um barulhinho muito peculiar, como a chuva caindo, mas de uma maneira muito mais sutil.

No seu décimo primeiro Natal, ela bolou um plano. Sairia de casa para descobrir o que era aquela coisa que caia tanto, não podia mais se conter de tanta curiosidade.

Então, quando sua mãe estava fazendo jantar e seu pai estava ao banho, Lisa abriu a porta de sua casa. E ao abrir, ela se deparou com uma cena totalmente diferente do que ela estava acostumada, uma cena muito branca.

Encostada no vão de sua porta, ela pensou que fosse só a luz ofuscando seus olhos, como sempre acontecia quando ela saia de casa depois do inverno, mas depois de um tempo ela reparou que seus olhos não estavam se acostumando, e então pensou que o mundo deveria ser branco assim mesmo nessa época do ano.

Maravilhada com a imensidão branca, ela se lembrou: “Tenho que descobrir o que é que tanto cai na minha janela.” E então, ela finalmente viu: Milhares de bolinhas brancas lentamente caindo do céu. Num ímpeto de euforia, Lisa saiu correndo em direção a elas, e quando as encontrou, começou a jogar as bolinhas para o alto, e pular, e correr.

Qualquer pessoa que visse Lisa naquele dia não saberia dizer se ela estava rindo ou chorando, mas diria com certeza que aquele foi um dos momentos mais emocionantes de sua vida.

Foi aí que Lisa lembrou de sua mãe, e de como ela ficaria zangada se a visse naquela situação. Por isso, decidiu que entraria de volta em casa, mas não sem antes pegar uma das bolinhas e colocá-la em seu bolso.

De volta ao seu quarto, Lisa tirou a bolinha do bolso, e reparou que ela era feita de alguma substância aquosa, e percebeu que mais cedo ou mais tarde ela iria acabar derretendo. Até isso acontecer, Lisa guardaria sua bolinha dentro de sua gaveta, para que sua mãe não a visse e descobrisse sobre a sua fuga.

Muitos dias se passaram, e durante todos esses dias Lisa espiava pelo menos três vezes ao dia a sua bolinha, que permanecia intacta dentro de sua gaveta. Lisa então decidiu que a bolinha não poderia ser feita só de água, mas que deveria ser composta de uma substância um pouco mais densa, e passou a chamá-la de algodão lácteo.

As coisas não poderiam estar mais perfeitas. Lisa havia ganhado muitos presentes de Natal, as festas tinham sido ótimas, ela não precisava mais se perguntar o que havia de tão extraordinário lá fora, e o melhor: ela tinha um algodão lácteo só para ela.

Passados quinze dias desde a aquisição do seu algodão, Lisa começou a tossir. E no que ela começou a tossir, ela ficou resfriada, e depois veio a febre. Sua mãe estava desacreditada, como Lisa teria ficado doente? Ela havia sido tão cautelosa, seguido todas as regras fielmente, como seria possível?

Em vista do desespero da mãe, Lisa decidiu contar a ela o que tinha feito. Ao contrário do que ela tinha pensando, sua mãe não ficou brava, nem gritou com ela, nem a pôs de castigo. Inacreditavelmente, sua mãe começou a chorar, pois havia percebido que isso sim era sua culpa. Se ela tivesse deixado Lisa sair, mas com roupas apropriadas que a protegessem, se tivesse ao menos deixado a janela aberta, nada disso teria acontecido, e Lisa não teria ficado doente.

A mãe de Lisa lamentou-se, pediu desculpas à filha e admitiu a ela que nunca deveria ter feito o que ela fez. Lisa, com seu sorriso infantil, disse: “Tudo bem mamãe, a senhora só tentou me proteger. Se eu tivesse lhe falado que tinha tanta curiosidade em saber o que havia lá fora, talvez a senhora me deixasse sair e isso não teria acontecido. Eu tive tanto medo de pedir isso a você que acabei fazendo com que eu mesma ficasse doente, me desculpe.”

Naquele dia, ambas chegaram ao consenso de que não importava de quem seria a culpa, e que as duas estavam profundamente arrependidas por não terem resolvido esse assunto antes.

Naquela noite, Lisa morreu. E mesmo assim, ainda se podia notar um enorme sorriso em seu rosto, graças a um floquinho de neve que começara a derreter dentro de sua gaveta.

domingo, 15 de junho de 2008

Teoria das Cores

Tudo começou em um dia amarelo. E eu digo amarelo porque os números ímpares me lembram coisas amarelas, e os pares, coisas roxas. E neste caso, era um dia redundantemente amarelo, porque o dia, o mês e o ano eram ímpares.
Eu não gosto da cor amarela, acho muito simplesinha. Eu costumava gostar muito da cor roxa, mas ao longo dos anos ela passou a ser muito comum e eu acabei enjoando. Hoje em dia eu gosto de todas as cores e de nenhuma cor ao mesmo tempo, porque eu gosto tanto das cores que isso faz com que eu não goste delas.
Naquele dia, o amarelo, foi o dia que eu respirei pela primeira vez. E doeu muito, e muitas outras coisas doeram, e demorou muito tempo pra que elas não doessem mais.

Coisas que doeram: meus olhos doíam com a luz, o toque das pessoas no início doía. O berçário doía e o olhar das pessoas em cima de mim doíam. O contato com a roupa doía e mais: o barulho. As vozes, os carrinhos arrastando, o choro dos outros e o meu próprio, tudo isso doía muito.

Depois de um dia amarelo, e mais um dia roxo, eu comecei a me acostumar. Eu comecei a achar algumas coisas muito boas.

Coisas que eram boas: eram bom quando me pegavam no colo e quando me davam comida.

Muitos dias amarelos e roxos se passaram. E eu fui gostando e desgostando de muitas coisas.
Eu descobri que as músicas eram verdes, e eu gostava muito dessa cor. As comidas eram laranjas e os animais eram vermelhos. As palavras também eram vermelhas, mas em um tom diferente do vermelho dos animais, O céu não era azul como todo mundo fala, pra mim ele sempre foi branco.
As pessoas sempre tiveram cores diferentes. A maioria delas era cinza, mas tambem tinha gente rosa, azul, laranja, verde, vermelha, preta, amarela, roxa...enfim,de todas as cores, e de todas as tonalidades possíveis. As pessoas as vezes mudavam de cor, mas isso não era muito comum. E raramente eu via pessoas coloridas, mas elas existiam.
Depois de um tempo eu fui percebendo algumas coisas sobre as pessoas.

Coisas que descobri sobre as cores das pessoas:

Pessoa rosa: a pessoa rosa era geralmente muito emocional. Às vezes ela se dava mal por causa disso, mas ela não podia viver de outro jeito a não ser esse. Além disso, era meio ingênua, sempre acreditava no que os outros falavam e confiava nas pessoas. Era uma ótima pessoa pra escutar e dar conselhos, mas ela mais pedia do que dava conselhos, por ser tão inocente. Se preocupava mais com os outros do que com si mesma.

Pessoa azul: a pessoa azul aparentava ser serena e tranquila, mas por dentro ela era um mar de idéias fervilhantes. Ela não se aproximava muito das pessoas, mas quando se aproximava ela encantava a todos com seu jeito de ser. Uma pessoa muito inteligente, a mais inteligente de todas as cores, e também muito sensível e emotiva.

Pessoa amarela: a pessoa amarela era muito alegre e engraçada. Está sempre fazendo piadas e alegrando o dia dos outros. Não tão emotiva assim, sempre leva tudo na esportiva e pode acabar magoando os outros com suas piadinhas infames. É uma pessoa muito sociável e segura de si.

Pessoa laranja: a pessoa laranja é muito feliz mas não necessariamente engraçada. Ela é delicada e gentil com todos, e seus olhos chegam até a brilhar quando ela fala de alguma coisa que gosta. Ela se empolga com facilidade, podendo deixar seus objetivos todos pela metade, tomados pela euforia de uma idéia nova ou uma decepção com a idéia velha.

Pessoa verde: a pessoa verde é meio preguiçosa. Adora dormir e comer, e está sempre pensando muito nas coisas. Ela costuma ter várias idéias, mas suas idéias geralmente não saem do papel, e ficam esquecidas na memória. Elas não têm coragem de mudar, de se tornar o que gostariam de se tornar e acabam se acomodando com as suas vidas.

Pessoa vermelha: a pessoas vermelha é muito ativa. Precisa sempre estar fazendo alguma coisa, envolvida em algum projeto, se não ela não se sente satisfeita. Ela gosta de ver seus projetos concluídos e não desiste até que eles se concluam. Age muito por instinto e nunca pensa duas vezes antes de fazer qualquer coisa.

Pessoa roxa: a pessoa roxa costuma se preocupar com si mesma antes de se preocupar com qualquer outra coisa. Ela tem um ímpeto revolucionário dentro dela e está sempre disposta a mudar o que está errado, mas tem dificuldade em aceitar críticas.

Pessoa cinza: a pessoa cinza está sempre de mau humor. Desiludida com a vida, ela acha tudo ruim, põe defeito até aonde não dá mais. A pessoa cinza é meio confusa, e se arrepende da maioria das coisas que realizou. Não é necessariamente infeliz, mas gostaria que as coisas fossem diferentes mas não têm ânimo para mudar as coisas.

Pessoa preta: a pessoa preta é uma pessoa triste. Não se anima para nada e passa a maior parte do tempo sozinha. Um dia ela já foi feliz, mas acha que nunca mais poderá ser feliz como antes, então ela nem tenta. Para algumas pessoas pretas, a vida é realmente um sufoco.

Além dessas pessoas, também existiam as pessoas coloridas. Na verdade, todas as pessoas do mundo nasciam coloridas, e permaneciam assim por um tempo. Um dia, tanto roxo como amarelo, elas se decidiam por fim de que cor seriam, podendo mudar de cor algumas poucas vezes na vida. As pessoas coloridas são aquelas que nunca se dicidiram quanto a sua cor, elas têm um pouco de tudo, e elas são raras. Normalmente, elas são chamadas de crianças pelas outras pessoas. Mas as outras pessoas não sabem ver cores como eu, elas não sabem que existem pessoas coloridas que já passaram por um montão de dias roxos e amarelos a mais do que as crianças.

O engraçado nisso tudo é que a única pessoa que eu nunca consegui enxergar nenhuma cor sou eu. Pra mim, eu sou incolor. Acho que isso é normal, né, não enxergar nenhuma cor em si próprio..mas quem disse que é normal enxergar cores nas outras pessoas? Que eu saiba, eu sou a única pessoa que vê as pessoas como cores, ou talvez, todos nós vejamos as pessoas como cores mas ninguém tenha coragem de falar.
Ou ainda, talvez todos nós tenhamos a capacidade de enxergar cores, mas todos estamos preocupados demais em tentar enxergar a nossa própria cor, o que é impossível, porque eu já tentei muito e nunca consegui. Quem sabe um dia eu consiga, mas acho que isso me prenderia numa cor só e me impediria de mudar de cor se eu quisesse.
Seria realmente muito chato viver sendo uma cor só.