terça-feira, 15 de julho de 2008

Revolução dos Peixes.

Lago Titicaca, altiplano dos Andes, fronteira do Peru com a Bolívia.


Naquele sábado, Junya Atawalpa descansava no leito do lago como fazia todos os finais de semana, desde seus cinco anos de idade. O dia estava tranqüilo, o sol brilhava na linha do horizonte e lua localizava-se logo acima, em uma imponente forma de meia lua. Para os turistas, aquilo era uma imagem maravilhosa, mas Junya já estava acostumado com a beleza do lugar e não se surpreendia facilmente.

Distraído em meio a seus pensamentos, avistou um pacote de salgadinhos e começou a comer, quando se deu conta de que o pacote não estava lá antes. Neste momento sentiu uma dor excruciante, de uma lâmina afiada perfurando o seu céu da boca até atingir seu osso temporal e sair logo acima da sua orelha direita.

Quando ele finalmente se deu conta de que se tratava de um tipo de anzol gigante amarrado a um fio, algo começou a puxá-lo para baixo e para frente, diretamente para o lago. Por mais que ele tentasse impedir, aquela força era mais forte do que ele, e acabou sendo levado água abaixo.

Essa tal força o estava puxando rapidamente, cada vez mais para baixo e Junya começou a perder a pressão. Apesar de ser um ótimo mergulhador em águas marinhas, mergulhar em rios, principalmente em altas altitudes, era outra história. Com o aumento da altitude, a pressão atmosférica diminui gradativamente, e isso faz com que os mergulhadores tenham que realizar certos ajustes no ato da descompressão, e Junya não havia aprendido a fazer esses ajustes. Seu fôlego, pelo menos, era excepcional.

Ele olhou com mais atenção para a criatura que o levava e percebeu que se tratava de um enorme peixe, cuja espécie ele não conseguia definir. O que era extremamente estranho, já que nessa época do ano, o verão, o aquecimento das águas marinhas nos vales fluviais provoca a morte dos plânctons, o que conseqüentemente leva à diminuição de peixes na região.

Ao chegar ao destino, Junya se viu em meio a vários outros peixes iguais. Eles eram gordos, enormes, tinham dentes descomunais que saíam da boca, o que lembrava a aparência de piranhas, só que numa proporção muito maior do que piranhas comuns. Mas o mais esquisito de tudo isso é que esses peixes estavam se comunicando de algum jeito. Todos pareciam ter suas próprias tarefas e saber o que faziam.

Junya foi posto em uma espécie de tábua de pedra e três dos peixes esquisitos começaram a examiná-lo, pareciam sorrir enquanto o observavam perder o ar e desesperar-se. Um dos peixes moveu sua barbatana em direção a ele, e logo ele soube que barbatanas eram um instrumento ótimo para retirar pele humana. Junya foi obrigado a testemunhar um peixe retirando sua pele, e mais peixes se juntarem ao trabalho, até que Junya se transformasse em músculo apenas, irreconhecível.

Esse foi o primeiro caso de pessoas pescadas por peixes. No mundo inteiro, tanto em lagos como nos oceanos, casos semelhantes começaram a acontecer. Nem sempre os peixes comiam suas vítimas como aconteceu com Junya, às vezes as pessoas até eram devolvidas para terra firme depois de levadas para o fundo.

E esse foi apenas o início.

4 comentários:

Vico Vinhal disse...

depois quero comentar algo sobre seu texto

apaixonante como sempre!

uma pergunta meio nada a ver a vendo
vc viu wall - e ?

Unknown disse...

Anda escutando muito Aerosmith rs.

Muito boa sua metáfora.
Nunca tinha lido uma crônica modernista.

Uma revolução descritivamente pertfeita,com pitadas de ecologismo, sangue e bom gosto.

Victor Meira disse...

Rê!

O absurdo me fascina, mas o moralismo desse fim me deixa meio enjoado.

Tudo bem, o texto é bem divertdo. Quero ler as próximas revoluções. Nenhum movimento político chega ao meio-termo utópico e permanece lá. Quero ver os peixes cheios de vilania pescando os homens e mudando a ordem do mundo. Hahahaha!

Legal Rê!

Victor Meira disse...

Legal!

O absurdo tá andando com as próprias pernas agora. Tiro dali o que eu quiser. Tá lindo!