domingo, 21 de setembro de 2008

Morte.


A minha vida inteira eu sempre falei pra todo mundo que não tinha medo de morrer, sempre que o assunto vinha à tona, eu sempre era a corajosa da turma. “Morrer? Ué, acontece com todo mundo, não é mesmo?”

Pura balela.

Eu acho que eu nunca tinha parado realmente pra pensar sobre isso quando eu falava que não tinha medo. É fato que acontece com todo mundo e todo mundo sabe disso, mas não sei se muita gente pára pra pensar: eu vou morrer. Um dia eu vou deixar de enxergar, de sentir, de falar, de me mexer, e todo o resto, porque eu vou morrer.

Eu não sei porque esse ano eu tenho pensado tanto nisso, nunca foi desse jeito. A minha vida inteira eu vivi como se ela fosse eterna, como se a realidade da morte fosse extremamente distante e eu não tivesse que me preocupar com isso agora.

Sempre vivi esperando..esperando por tudo o que eu sempre quis fazer e ainda não fiz. Sempre achei que um dia faria tudo o que já tive vontade, mas a verdade é que eu não vou fazer. Eu não vou dançar bem, eu não vou ser ginasta e eu não vou ser a pessoa mais inteligente do mundo. Eu não vou cantarolar em um lugar qualquer e um olheiro vai me ouvir sem querer e gostar da minha voz (que por sinal é feia) e me chamar pra ser cantora.

Eu não vou fazer nada disso, eu vou é morrer.

Esse não é mais um texto de incentivo a viver a vida intensamente, como todos esses que eu vejo por aí, esse é um texto pé no chão, o primeiro da minha vida.

Não é questão de fazer tudo ao mesmo tempo, o quanto antes puder e uhuuul. É que eu vou morrer. Você vai morrer. Os meus e os seus pais vão morrer, se é que já não morreram. Seus irmãos, cônjuges, e todo mundo que você conhece vai morrer, e seus bichos de estimação também.

Eu não sei se qualquer outra pessoa é capaz de me entender, e de entender o que eu sinto quando eu penso nisso. E não é que eu penso nisso uma vez ao mês, eu penso exatamente todos os dias. É um saco, me incomoda, eu fico triste, eu choro, mas fazer o que? Eu vou morrer de qualquer jeito.

Eu imagino como que vai ser o meu leito de morte. Se eu vou estar num hospital com toda a minha família, se eu vou conseguir dar tchau pra todo mundo ou se vai ser em um acidente inútil e rápido. Por um lado seria bom ser assim rápido, porque não dá nem tempo de pensar na idéia da morte, mas para os outros seria como um choque.

Outro dia morreu um menino que estudava comigo no pré, e da maneira mais imbecil que eu já vi. Todo mundo ficou assustadíssimo, inclusive eu. É incrível como morte precoce assusta as pessoas, mas acontece. As pessoas falam que não é a ordem natural das coisas, morrer o filho antes do pai, mas mesmo assim, acontece. Pode ser que seja injusto, mas de novo, acontece.

Eu já falei pros meus pais que se eu morrer antes deles, eu quero ser enterrada de pijamas. Nada daquela babaquice de por o vestido mais bonito e maquiar o defunto não. Quero ir de pijamas confortáveis e sem maquiagem, assim como se estivesse indo só dormir. E também não quero ninguém chorando por mim o resto da vida, porque já que a pessoa ta viva, então viva né, não adianta nada ficar chorando por alguém morto já que um dia você também vai morrer.

É LÓGICO que isso eu falo pros outros só pra ser mais fácil, porque se uma formiga morre, eu choro o dia todo praticamente. De verdade, uma vez na segunda série mataram uma mariposa no pátio do colégio e eu comecei a chorar, e todo mundo faz piada com isso até hoje. Eu não acho que é nenhuma piada até hoje também.

Eu sei que eu sou exageradamente sensível às vezes, mas eu me pergunto se sou eu que sou sensível ou se são os outros que se esqueceram de como é ser sensível. Claro que não é nada legal viver assombrada pelo dia da morte, mas eu acho que eu prefiro viver assim a não ligar pra mais nada.

Eu não entendo muitas coisas desse mundo. Eu nunca quis ser reconhecida pelo dinheiro, pela fama, por nada disso, eu sempre quis cativar as pessoas com o meu próprio jeito. Eu queria ser um exemplo de pessoa, e não quero que minha casa seja um exemplo de casa ou meu cabelo e minhas roupas sejam um exemplo de cabelo e roupas. Eu nem uso brincos, pelo amor de Deus.

Eu só não sei se eu sou um exemplo de pessoa para os outros ou se eu gosto tanto de ser como eu sou, que eu fico achando que todo mundo gostaria de ser como eu.

Mas isso é só uma opinião minha, uma pessoa que um dia vai morrer.

E eu não quero morrer.