sexta-feira, 25 de julho de 2008

Sabrina.


A Sabrina é minha amiga há mais ou menos dez anos.

Lembro muito bem quando a gente se conheceu. Era verão, eu estava com dor de ouvido e alergia a chocolate, ela estava com fome e sede. Com isso, eu a acolhi em minha casa alugada de praia, no Lázaro, em Ubatuba.

Trouxe-a para São Paulo para morar comigo, e desde então nos tornamos amigas inseparáveis. Era difícil me acostumar a dividir tudo com ela, mas com o tempo aprendi a dividir meus cobertores, minha cama, minhas roupas, minha comida e minha paciência.

A Sabrina não é nada fácil. Só toma água se for bem gelada no copo de vidro, e peixe então, só salmão e olhe lá. Senta em cima do meu computador sem nenhuma cerimônia, sem contar o fato de que ela gosta de me irritar fazendo barulho com moedas de noite e insiste que eu dê comida para ela na boca! Eu não dou não, porque depois de dez anos eu ainda acredito que ela tem que aprender a comer sozinha, morrer de fome ela com certeza ela não vai. E também tem as incontáveis vezes que ela me acorda no meio da noite para que eu satisfaça algum de seus desejos, como abrir a porta do quarto, entrar debaixo das cobertas e tudo mais.

Apesar de toda a folga sem vergonha, ela já me ajudou em várias situações. Me faz companhia sempre que eu estou doente e preciso de descanso (descanso é com ela mesmo), sempre percebe quando eu estou triste e vem me consolar de algum jeito. Ela é uma das pessoas (ela tem certeza que ela é uma pessoa) mais sensíveis que eu já conheci, sabe o que fazer ou falar na hora certa.

Ela também já passou por alguns perrengues na vida. Morre de medo de secador, aspirador, e como foi recentemente descoberto, tem medo de bolinhas de sabão. Foi muito duro para ela quando nós decidimos acolher seus irmãos adotivos. Primeiro veio a Nikita, quando ainda era bebê. Encontramos Nikita no nosso jardim e decidimos cuidar dela. Apesar de ter sido criada em berço de ouro, ela se tornou um tanto quanto brava. Chegar perto dela às vezes é sinônimo de loucura, mas ela é tão bonita e gordinha que é impossível resistir.

Depois veio o Ô-Ô. Sim, esse é mesmo o nome dele. O ô-ô já chegou numa idade avançada, mas resiste bem o velhinho. É tão bobão que você pode virá-lo de ponta cabeça, jogá-lo pra cima que ele não faz nada. Mas tome cuidado, quando ele se irrita é encrenca na certa, sua vida nas ruas o ensinaram muitas coisas. Alguns anos depois, veio a Molly. A Molly é meio chata para falar a verdade. Nunca conheci alguém tão carente e inconveniente em toda a minha vida. Grudenta, faz questão de colar no meu pé a toda hora. Mas ela é fofinha de vez em quando.

A Sabrina também já passou por momentos difíceis quanto a sua saúde. Certa vez, fomos a um médico que receitava anticoncepcionais para ela, e num momento posterior descobrimos que ela já não possuía mais útero, uma maneira para extorquir dinheiro e prejudicar sua saúde. Ao longo dos anos, ela contraiu doenças de pele várias vezes, devido ao stress e uma possível alergia a leite, ficando com uma aparência desagradável, que mais lembrava um aborto genético. Recentemente, ela operou um negócio calcificado que começou a crescer para fora de sua barriga, e com a recuperação da cirurgia, também seus pêlos voltaram ao normal e sua saúde está intacta.

Nós brincamos muito, eu e ela, mas às vezes ela exagera e nós acabamos brigando. Brincar com ela pode ser perigoso se você não estiver acostumado a se esquivar rápido de seus golpes. Normalmente, ela corre atrás das minhas mãos, tentando pegá-las, às vezes até brincamos de pega-pega, mas ocasionalmente eu me irrito e acabo quase mordendo ela também. Nunca a mordi não, mas de vez em quando eu a deixo de castigo, proibida de deitar em cima de mim pelos próximos cinco minutos, mais tempo do que isso eu não agüento.

Apesar de sua vitalidade e sua saúde estar boa, não posso negar que já nos conhecemos há dez anos, e que antes disso, eu não faço a menor idéia há quanto tempo ela já existia. Portanto, é verdade quando digo que não faço a mais porca idéia de quantos anos ela tem. Eu calculo que deve ter uns 12, 13, mas quem sabe?

O dia que ela morrer, duas coisas podem acontecer: ou ela continuará sempre viva comigo em meu coração, ou uma parte de mim morrerá junto com ela. Eu, particularmente, acho a 1ª opção mais agradável.

Mas por enquanto deixemos esse assunto de lado.

Para mim ela é eterna, e sempre vai ser.

Um comentário:

Unknown disse...

Re,
Que declaração de amor, mais linda....Cheguei ate as lagrimas. Pois como voce, eu tambem amo esse seres abençoados e såbios.
Muit lindo mesmo.
Beijão
Veveth