domingo, 15 de junho de 2008

Teoria das Cores

Tudo começou em um dia amarelo. E eu digo amarelo porque os números ímpares me lembram coisas amarelas, e os pares, coisas roxas. E neste caso, era um dia redundantemente amarelo, porque o dia, o mês e o ano eram ímpares.
Eu não gosto da cor amarela, acho muito simplesinha. Eu costumava gostar muito da cor roxa, mas ao longo dos anos ela passou a ser muito comum e eu acabei enjoando. Hoje em dia eu gosto de todas as cores e de nenhuma cor ao mesmo tempo, porque eu gosto tanto das cores que isso faz com que eu não goste delas.
Naquele dia, o amarelo, foi o dia que eu respirei pela primeira vez. E doeu muito, e muitas outras coisas doeram, e demorou muito tempo pra que elas não doessem mais.

Coisas que doeram: meus olhos doíam com a luz, o toque das pessoas no início doía. O berçário doía e o olhar das pessoas em cima de mim doíam. O contato com a roupa doía e mais: o barulho. As vozes, os carrinhos arrastando, o choro dos outros e o meu próprio, tudo isso doía muito.

Depois de um dia amarelo, e mais um dia roxo, eu comecei a me acostumar. Eu comecei a achar algumas coisas muito boas.

Coisas que eram boas: eram bom quando me pegavam no colo e quando me davam comida.

Muitos dias amarelos e roxos se passaram. E eu fui gostando e desgostando de muitas coisas.
Eu descobri que as músicas eram verdes, e eu gostava muito dessa cor. As comidas eram laranjas e os animais eram vermelhos. As palavras também eram vermelhas, mas em um tom diferente do vermelho dos animais, O céu não era azul como todo mundo fala, pra mim ele sempre foi branco.
As pessoas sempre tiveram cores diferentes. A maioria delas era cinza, mas tambem tinha gente rosa, azul, laranja, verde, vermelha, preta, amarela, roxa...enfim,de todas as cores, e de todas as tonalidades possíveis. As pessoas as vezes mudavam de cor, mas isso não era muito comum. E raramente eu via pessoas coloridas, mas elas existiam.
Depois de um tempo eu fui percebendo algumas coisas sobre as pessoas.

Coisas que descobri sobre as cores das pessoas:

Pessoa rosa: a pessoa rosa era geralmente muito emocional. Às vezes ela se dava mal por causa disso, mas ela não podia viver de outro jeito a não ser esse. Além disso, era meio ingênua, sempre acreditava no que os outros falavam e confiava nas pessoas. Era uma ótima pessoa pra escutar e dar conselhos, mas ela mais pedia do que dava conselhos, por ser tão inocente. Se preocupava mais com os outros do que com si mesma.

Pessoa azul: a pessoa azul aparentava ser serena e tranquila, mas por dentro ela era um mar de idéias fervilhantes. Ela não se aproximava muito das pessoas, mas quando se aproximava ela encantava a todos com seu jeito de ser. Uma pessoa muito inteligente, a mais inteligente de todas as cores, e também muito sensível e emotiva.

Pessoa amarela: a pessoa amarela era muito alegre e engraçada. Está sempre fazendo piadas e alegrando o dia dos outros. Não tão emotiva assim, sempre leva tudo na esportiva e pode acabar magoando os outros com suas piadinhas infames. É uma pessoa muito sociável e segura de si.

Pessoa laranja: a pessoa laranja é muito feliz mas não necessariamente engraçada. Ela é delicada e gentil com todos, e seus olhos chegam até a brilhar quando ela fala de alguma coisa que gosta. Ela se empolga com facilidade, podendo deixar seus objetivos todos pela metade, tomados pela euforia de uma idéia nova ou uma decepção com a idéia velha.

Pessoa verde: a pessoa verde é meio preguiçosa. Adora dormir e comer, e está sempre pensando muito nas coisas. Ela costuma ter várias idéias, mas suas idéias geralmente não saem do papel, e ficam esquecidas na memória. Elas não têm coragem de mudar, de se tornar o que gostariam de se tornar e acabam se acomodando com as suas vidas.

Pessoa vermelha: a pessoas vermelha é muito ativa. Precisa sempre estar fazendo alguma coisa, envolvida em algum projeto, se não ela não se sente satisfeita. Ela gosta de ver seus projetos concluídos e não desiste até que eles se concluam. Age muito por instinto e nunca pensa duas vezes antes de fazer qualquer coisa.

Pessoa roxa: a pessoa roxa costuma se preocupar com si mesma antes de se preocupar com qualquer outra coisa. Ela tem um ímpeto revolucionário dentro dela e está sempre disposta a mudar o que está errado, mas tem dificuldade em aceitar críticas.

Pessoa cinza: a pessoa cinza está sempre de mau humor. Desiludida com a vida, ela acha tudo ruim, põe defeito até aonde não dá mais. A pessoa cinza é meio confusa, e se arrepende da maioria das coisas que realizou. Não é necessariamente infeliz, mas gostaria que as coisas fossem diferentes mas não têm ânimo para mudar as coisas.

Pessoa preta: a pessoa preta é uma pessoa triste. Não se anima para nada e passa a maior parte do tempo sozinha. Um dia ela já foi feliz, mas acha que nunca mais poderá ser feliz como antes, então ela nem tenta. Para algumas pessoas pretas, a vida é realmente um sufoco.

Além dessas pessoas, também existiam as pessoas coloridas. Na verdade, todas as pessoas do mundo nasciam coloridas, e permaneciam assim por um tempo. Um dia, tanto roxo como amarelo, elas se decidiam por fim de que cor seriam, podendo mudar de cor algumas poucas vezes na vida. As pessoas coloridas são aquelas que nunca se dicidiram quanto a sua cor, elas têm um pouco de tudo, e elas são raras. Normalmente, elas são chamadas de crianças pelas outras pessoas. Mas as outras pessoas não sabem ver cores como eu, elas não sabem que existem pessoas coloridas que já passaram por um montão de dias roxos e amarelos a mais do que as crianças.

O engraçado nisso tudo é que a única pessoa que eu nunca consegui enxergar nenhuma cor sou eu. Pra mim, eu sou incolor. Acho que isso é normal, né, não enxergar nenhuma cor em si próprio..mas quem disse que é normal enxergar cores nas outras pessoas? Que eu saiba, eu sou a única pessoa que vê as pessoas como cores, ou talvez, todos nós vejamos as pessoas como cores mas ninguém tenha coragem de falar.
Ou ainda, talvez todos nós tenhamos a capacidade de enxergar cores, mas todos estamos preocupados demais em tentar enxergar a nossa própria cor, o que é impossível, porque eu já tentei muito e nunca consegui. Quem sabe um dia eu consiga, mas acho que isso me prenderia numa cor só e me impediria de mudar de cor se eu quisesse.
Seria realmente muito chato viver sendo uma cor só.

6 comentários:

Taum disse...

reee, parabens pelo blog, vc sempre inspirada hehe.. bjs TAO.

J-Alff disse...

xD
Muito loko!!!
Gostei!
Me fez refletir bastante! ^^

Continua escrevendo q eu continuo lendo! hahaha

bejos!!
João!

Victor Meira disse...

Muito bacana, Rê. O texto é muito singelo, curioso e bem estruturadinho. A pouca-figura é auto-suficiente e sustenta a narrativa com muita leveza. A conclusão é ótima.

Por fim, me deixou perplexo uma coisa: o blog é preto.

Vou voltar mais vezes pra te ler.
Bêjo!

Unknown disse...

re... voce sabe que eu adoro o jeito que voce escreve!
adoro seus textos,suas criticas e reflexões!!
vc sabe que eu apoio muito que voce continue escrevendo!

espero continuar lendo seus textos aqui.... e considere isso como um incentivo de uma velha amiga que te conhece muito bem!
vc vai longe!acredita.

bejo enorme

Natália disse...

Aaaaah q lindo!
Re, adoro esse jeito de escrever...e é muito difícil achar pessoas q escrevam assim

Nossa AMEIII

Parabens!!!!!!


Natália

Unknown disse...

Todas as cores juntas formam o branco.
Ausência de cor significa preto...

Partindo dessa premissa eu vi um milhão de subjetividades, mas aposto que não descobri a sua ao escrever isso.